segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Respeitem a natureza

Caso não tenham acompanhado o fim ruidoso do meu último relacionamento, foi capa de todas as Contigos, Amigas e Caras da vida por semanas, saibam que isso me deixou meio traumatizado e sem vontade de sair de casa. Malditos paparazzi, que não dão trégua, eles não sabem respeitar minha dor e se pudessem se esconderiam até no encanamento do vaso sanitário. Por isso peço uma salva de palmas pro sujeito que inventou a tele-entrega.

Precisava urgentemente sair de casa e como conseguir isso, sem atrair a multidão de repórteres para minha escapada? Combinei com um sósia meu que sempre usava para situações de perigo uma forma de ele despistar os abutres enquanto eu sumia disfarçado de Super-Homem pela casa do vizinho.

Ufa! Deu certo o plano. Depois que coloquei a cueca por baixo da calça, cheguei na praia caminhando e resolvi fazer uma trilha pelas pedras do costão até uma praia vizinha. Lindo, perfeito, comunhão total com a natureza como um poeta do arcadismo. Minha fama e fortuna não significavam nada para aqueles seres todos. Se bem que acho que um lagartão me reconheceu.

Cheguei, com milhares de carrapichos presos no tênis e nos pelos das pernas, ao meu destino. A coceira tinha amenizado. Respirei o ar puro e curti um pouco aquela calma. Não tomei banho pelado por medo das fotos pararem na Internet. Isso não seria bom, agora que estou negociando meu ensaio sensual pruma revista dessas.

Era hora de voltar e vi um pedaço de cabo de enxada ou machado ou algo assim entre as pedras e peguei-o para bancar o Robinson Crusoé. Mal sabia eu as implicações desse ato tão corriqueiro.

Estava esbaforido, sem fôlego mesmo pois tinha andado no sol do meio-dia, pelo horário de verão parecia mais cedo. Embaixo de umas pedras perto do ponto de partida da trilha, as pedras do costão da praia A, encostei meu belo e cansado corpinho à sombra. Vi algo rolando nas ondinhas e batendo contra as pedras lá embaixo. Parecia um pingüim morto.

Era um Spheniscus magellanicus morto. Desde criança as figurinhas de animais que vinham no chocolate Surpresa e corpos de animais mortos me causam comoção e quase me empurraram para uma carreira na biologia. Ainda tenho a coleção e a caveira do primeiro passarinho que encontrei guardada em algum lugar.

Cheguei bem perto dele e o virei com meu cajado. Para quê? Uma criança que estava bem perto lavando no mar seu baldinho de areia e voltou correndo para seus pais ou o que me parecia um casal de israelenses bem suspeitos. Mãe, o moço matou o bichinho com uma paulada. Eu vi ele vivo não faz nem 2 minutos, disse uma outra testemunha de acusação.

Quando dei por mim, centenas de banhistas estavam na areia em volta de mim. Tinham me reconhecido e não adiantava tentar explicar a história. Para todos os efeitos eu era o assassino do pobre animal, morto a pancadas, que por azar pegou uma curva errada no estreito de Magalhães, que nem é tão estreito assim.

Logo eu que participei de dezenas de comerciais pro Greenpeace voluntariamente (leia-se: por um cachê bem menor do que mereço) e não faria mal a um mosquito, deixo isso pro SBP (outro comercial meu).

Alguém lembrou que crime desse tipo é inafiançável. É nessas horas que dou o devido valor ao diploma de curso superior que comprei. Sabia que teria utilidade algum dia mas não foi nesse. Vou deixar pruma próxima, num caso de sedução de menores, obviamente uma armação.

Consegui escapar dessa confusão, sempre consigo. Culpem o meu charme e carisma magnéticos. Mas a notinha no jornal no dia seguinte não foi das mais favoráveis. (Nota: demitir minha assessora de imprensa). Mesmo assim tá no meu álbum de recortes de coisas que são ditas de mim na imprensa.

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