segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Algumas mulheres

Vanessa
Vanessa era uma morena muito gostosa, não muito bonita de rosto, mas muito gostosa. A vizinha da frente dos sonhos de todo garoto onanista. Eu falava isso pra ela e também elogiava seus peitos, que maravilhas eles eram, os dois perfeitamente simétricos e lindos. Ela ficava sem-jeito sem necessariamente ficar constrangida, parecia que gostava de me ouvir falar aquelas coisas que enalteciam o ego dela. Mudado o cenário era como se fosse a Helô Pinheiro, que não era Pinheiro e era morena nesse tempo, e eu, um velho babão cachaceiro, tecendo linhas de elogio àquele corpo perfeito que ia e que vinha. Eu a comi, muitas vezes por sinal. Preferia tê-la comido quando ainda estava noiva. O prazer teria sido redobrado. O asno não tinha a mais vaga noção da mulher que tinha e que lhe escapou por entre os dedos. Felizmente o mundo é povoado por um contingente grande de babacas. Agora ela andava no Rio, dando para atores globais e eu aqui, me virando para pagar as contas no fim do mês. Escrevia minha prosa sacana e rangava uma ou outra com essa abordagem. Ainda funcionava e me garantia carne selecionada. Mas eu pensava nela. Aqueles seios eram fantásticos, podiam ser um pouco maiores, do que jeito que estavam já eram perfeitos e proporcionais. Seu rosto não era feio nem bonito, ficava bem mais próximo desse último tipo. Eu acalentava o sonho de fazer sexo com ela uma outra vez mais. Com ela um homem não faz amor, faz sexo mesmo, do tipo quente, quanto mais sujo melhor, basta apenas ter calma e desarmar-lhe as barreiras. Procurei por ela no Rio, encontrei apenas:

Fernanda
Uma putinha polaca que vinha de uma cidade de bosta na divisa de SC com PR. Queria me beijar. Eu não beijo putas. Ela realmente gostava de mim. E quanto a mim, eu só queria comê-la sem ter que pagar e consegui. Aquilo não estava mais funcionando para mim. Eu a comia pensando na Vanessa, que não poderia ser mais diferente dessa aqui. Tive vontade de esbofeteá-la. Fernanda, não Vanessa. Assim ela me deixaria em paz. Vanessa eu só batia quando me implorava uns tapinhas fazendo biquinho com seus lábios macios e volumosos.Na volta do Rio, sem ter feito grandes progressos para encontrar Vanessa, troquei Fernanda por

Lídia
Amiga de uma amiga de uma ex, que encontrei por acaso voltando também do Rio. Tinha acabado de fazer uma revista masculina bem bagaceira. Sorte minha ela ter cheirado a passagem de avião. Sentamos juntos a viagem inteira. Em pouco tempo lá ia eu, dizendo muita sujeira em seu ouvido. Deu certo e fizemos entre os bancos do fim do corredor do ônibus quase vazio. A pele bem bronzeada era um afrodisíaco por si só, aliada a bela cara de puta cara. As horas passaram depressa. Fiquei de ligar para ela quando nos despedimos. Segui com ela por mais um tempo. Daí surgiu

Sara
Uma atrizinha de talento, beleza estranha, ao contrário de Vanessa era genuinamente inteligente, muito madura para sua idade. Me fazia pensar duas vezes antes de lhe falar qualquer coisa que fosse. Nutria uma forte tendência homicida em relação ao ex-namorado, por essa razão transávamos sem, no entanto, dormirmos juntos, nem na minha nem em sua casa. Sara era intensa de uma forma que eu nunca tinha experimentado antes, demandava muita mão de obra e estratagemas intelectuais. Um pouco de complicação faz a vida mais interessante, não obstante, superficial como sou, desisti. Foi muito interessante ter um envolvimento com ela, mas eu acabei me enrolando de novo com

Lídia
Sabe como é? As coisas com Lídia não tinham terminado, apenas estavam em estado de animação suspensa, como se diria em filme barato de ficção científica. Onde eu entrava com ela não fazíamos aquela entrada triunfal, mas não chegávamos despercebidos. E quem disse que íamos nos casar mesmo? Enquanto estivesse tudo tranqüilo, sem pressão, continuaríamos nos vendo. Adivinha quem volta do Rio por minha causa?

Vanessa
"Oi", ela me disse com aquela voz deliciosa pelo telefone. "Podemos nos ver? Fiquei com saudade das coisas que você me dizia."
"E de mim mais ainda, naturalmente?"
"Lógico", respondeu Vanessa.
A bem da verdade ela não havia voltado do Rio exclusivamente por minha causa. Iria passar duas semanas na cidade e eu tinha tudo para aproveitar a curta temporada naquelas curvas. Levei-a para jantar numa pizzaria foderosa perto de minha casa. Já meio alta de vinho me pergunta se podíamos ir para minha casa. Querida, a gente já está lá. Sexo quente e devasso a noite toda. Com ela eu faria a noite toda e mais dias e noites seguidas, esquecendo o cansaço.

Seu celular tocou outro dia desses quando estávamos juntos. Era um escroto que conhecera no Rio. Ficou bastante tempo com ele ao telefone e não pude me controlar, quando disse para ele que não estava fazendo nada e quando encerrou a ligação e me disse o nome do sujeito com um certo ar de felicidade, imaginei aquele sotaque nojento carioca do outro lado, sem pensar muito, com as costas da mão dei um tapa naquele rosto que há pouco afagara, sentindo a pele macia.

Sabia que ela não era minha, foi um choque para meu cérebro ter tanta certeza disso. Por aquele momento o controle me fugiu: lá era lá, aqui era aqui. Senti que as coisas haviam se misturado e fiquei muito possesso com isso. Quem aquele excremento pensava que era para encurtar ainda mais os poucos momentos que me restavam ao lado dela?

Desnecessário dizer que perdera de vez Vanessa. Amanhã mesmo ela voltaria ao Rio, direto para o sujeito do telefone e a culpa era toda minha. Até agora estou surpreso comigo mesmo pelo que fiz. Não era o meu jeito, nunca fui assim. Não era algo que faria por mais raiva que sentisse de quem quer que fosse. Apesar de tudo minha vidinha continuaria, vazia e insípida como sempre fora.

Escutando uma dessas músicas com pianinhos estilo Bacharach, senti a urgência de matar alguém, gritar e chorar. Liguei correndo para Vanessa.
"Me perdoa?"
Ela estava muda do outro lado."Por favor. Perdi a cabeça."
" ..."
"Se fiquei muito puto é porque eu te amo. É isso mesmo. Te amo. Não vai pro Rio. Fica aqui comigo."
"Doeu!"
"Me perdoa. Sou maluco, tarado por ti, sabe disso."
"Eu sei, mas..."
"Pelo menos me deixa te ver mais uma vez. Uma última vez."
E nos vemos uma última vez e fodemos uma última vez. Ela então se foi. Segurei o choro, afinal a vida continua.

O primeiro caso

Sei lá, talvez isso dê dinheiro, disse para mim mesmo antes de assinar a ficha de inscrição para o curso de detetive. No folheto dizia que aprenderia a seguir as pessoas sem ser notado, fazer escutas telefônicas e todas as coisas que um detetive particular deve saber.

Pensei em tirar um troco fácil dos traídos que povoam essa parte da Terra. Traição passaria a ser meu ganha pão. Descobrir onde maridos ou esposas libidinosos estariam cometendo adultério, flagrá-los, exibir as provas da infidelidade conjugal e descontar o cheque que algum pobre diabo me daria completamente arrasado, ou, na pior das hipóteses, com sede de vingança.

Minha parte no trabalho encerraria nesse ponto. Sem julgamentos, sem apoio moral às “vítimas”. Apenas uma velha frase surrada: “Passar bem”.

Na primeira aula um ex-investigador de polícia se apresentou como professor. O nome dele era Eliezer. Beirava seu 55 anos e estava ficando calvo, passou seu histórico profissional, 20 anos como investigador da polícia civil, alguns casos resolvidos outros arquivados. Atirou em bandidos. Há 5 anos começou a trabalhar por conta própria como detetive particular quase ao mesmo tempo que começou a ministrar as aulas.

A turma. Que bando de loucos. Éramos em 10. Aprendemos a seguir pessoas na rua sem sermos notados, a usarmos alguns aparelhos de escuta telefônica que funcionavam para espanto de alguns. No final do curso cada um recebeu um diploma, habilitando-nos a se embrenhar na profissão de detetive. Eliezer nos desejou sorte.

Qual era o próximo passo? Da mesma forma que havia me matriculado no curso por causa de um anúncio no jornal, resolvi redigir e publicar o meu, oferecendo meus serviços para quem estivesse disposto a pagar. Pensei nos filmes dos anos 40 e achei bacana a idéia de ter um escritório com meu nome na porta de vidro, mas era um luxo desnecessário já que um celular pré-pago resolveria a questão. Uma semana desde que publicaram meu anúncio e nem um telefonema. Começava a achar que havia cometido um grande erro ao depositar grandes esperanças na nova carreira quando toca o telefone

.“Acho que meu marido está me traindo”, disse a bela voz feminina do outro lado da linha, um pouco nervosa, meio envergonhada até.

“Bom, é pra isso que estou aqui. Você precisa me dar todas as informações sobre ele. Para isso me encontre no ..., (uma lanchonete fast food) em uma hora. Acha que consegue chegar lá, sabe onde é?”

“Sei, estou tão revoltada...”

“Me espere no segundo andar, lá a gente vai ter privacidade a essa hora. Acalme-se,” pedi-lhe educadamente.

“A gente trata desse caso em breve.” Pedi que trouxesse fotos atuais do marido.

Encontrei-a no local que combinamos. A mulher chegara uns dez minutos antes. Não era grande coisa como a voz no telefone sugeria. Meio gordinha, alta, loira, de olhos vivos, na casa dos 40 e poucos e usando um camafeu que fora presente de namoro do marido, ela me contou tudo. Na verdade, ela era louca pelo marido, só que a desconfiança estava a corroendo e precisava saber de tudo, mesmo que a verdade fosse de difícil digestão. Para minha sorte ela viu o anúncio, tomou coragem e ligou.

“Não é fácil para eu fazer isso”, ela me disse, “pensei muito a respeito. Cheguei a pensar que se seria bem feito para mim se por acaso ele realmente estivesse tendo um caso com outras mulheres. Tudo por causa de uma desconfiança boba. Sempre confiei nele. Mas desde que descobri uma camisinha meio estranha em suas coisas, passei a notar que ele mudou seu jeito comigo.”

“Que tipo de camisinha é essa?”, perguntei.

“Do tipo importada. Com rugas para maior prazer, pelo menos era isso que estava escrito na caixa.” Ela fez uma breve pausa e continuou “faz tempo que não fazemos, você sabe - estava meio constrangida - sabe, sexo? E nunca nos preocupamos com métodos contraceptivos antes.”

Hum, foi a minha resposta.

“Tudo bem, vamos ver o que dá para descobrir. Preciso dos seus horários, locais que freqüenta e onde fica seu escritório.”

Ela me forneceu essas informações e pensei que se a minha carreira não progredisse, pelo menos poderia vender informações para seqüestradores profissionais. Pensando bem acho que não seria capaz de fazer isso.

O sujeito se chama João Morais, mais conhecido como Morais pelos amigos. Era dono de uma empresa de representação comercial bem sucedida de produtos transgênicos que todos consumiam sem se importar com a saúde. Regra básica número 1: checar a secretária ou mulheres da empresa. Se ela for boa, possivelmente é a terceiro lado do triângulo. Nem sei se essa é uma regra básica, mas vamos lá. Pelo menos faz algum sentido.

Fui na empresa verificar as mulheres que trabalham lá a procura da suspeita. Entrei no prédio de 10 andares que abrigava o escritório da empresa do Morais, que ocupava metade do 6o andar. Já na entrada dei de cara com uma mulher carrancuda na recepção. Essa eu podia quase que imediatamente eliminar do rol de suspeitas.

“Sou do supermercado tal e quero negociar direto com o dono”, ordenei sorrindo à simpática, porém séria recepcionista, no intuito de mostrar que sorrir era algo que não doía.

Ela me pediu um instante, quase esboçando um sorriso, acho que na verdade ela estava querendo fazer uma careta, mas ela aprendera bem, negócios em primeiro lugar, e falou com o dono.

“Seu Morais, tem um senhor aqui na frente que quer tratar de negócios com o senhor, como é seu nome mesmo senhor...”

“Jonas, meu nome é Jonas”, era mentira, mas se tornaria daqui para frente meu nome quando precisasse me apresentar para estranhos.

Falou mais um pouco no telefone e me disse: “Sr. Jonas, por aqui”, por favor, e me guiou até a sala que tinha uma porta se lia Diretor-Executivo em letras pretas. Fui apresentado ao Morais. Não era grande coisa como já pude notar pelas fotos.

“Obrigado, dona Fifi - ou qualquer outro que fosse o nome da mulher que me atendeu - , isso é tudo”, disse ele.

Ela saiu e fechou a porta.

“A que devo sua visita?”

“Estou aqui para negociar um contrato bem rentável”, estava eu dizendo quando fui interrompido pelo telefone.

“Sim, pode passar dona Fifi”, aquela altura eu já havia batizado a recepcionista de Fifi. O homem sentado à minha frente do outro lado da mesa, era gordo, e muito simpático com quem quer que estivesse ao telefone.

“Sim, amor, naturalmente. No Chez Henri.” Ele era assim e sua aparência deixava isso bem claro. Era capaz de ser amável e formal ao mesmo tempo. Pensei que estivesse com a esposa ao telefone, para minha sorte não era. Constatei isso ao me fazer de bobo e perguntei se era a patroa chamando e com sua cara inchada e amável me disse que não. Te peguei, filho da puta. Vai ser mais fácil que eu pensava. Só falta pegar o Morais no pulo e mostrar a prova à sua esposa e descontar um cheque polpudo.

Já estava sentindo o cheiro da grana, a madame concordara com o preço que passei, porém precisava ser muito cuidadoso para não deixar o gordo escapar. Um erro agora e tudo podia ir pelos ares. Aproveitei enquanto estava distraído com a amante no telefone e pensei na desculpa para me mandar de lá sem fechar um contrato e sequer saber a cotação de sua mercadoria.Saí de lá bastante feliz, a sorte que dei provavelmente poderia deixar de me acompanhar no resto do caso.

No local e hora combinados decidi me postar à espera da vítima. Entrei numa pastelaria quase em frente ao restaurante. “Dois de frango catupiri”, pedi ao carinha entediado que atendia. Ele passou por uma cortininha e trouxe os pastéis prontos para fritar. Ele mesmo fritava os pastéis, fazia isso tão automaticamente que se pudesse dirigiria um carro ao mesmo tempo.

Nada do Morais e sua companhia chegando no restaurante, preciso esperar mais mesmo. Cheguei mais cedo para evitar surpresas. De repente o apetite sexual pela esposa pode ter morrido enquanto as outras mulheres podiam estar na mira. Enquanto espero o gordinho traidor e sua amante, me surpreendo imaginando como deve ser essa pessoa. Seria morena, loira, baixinha, alta, uma modelo, uma amiga da esposa que sabe guardar segredo, alguma trouxa muito mais nova que ele que acredita que ele deixaria a esposa, quem sabe? Após muita ponderação conclui como devia ser a amante de Morais. Faltava poucos minutos e poderia tirar as dúvidas, verificar se estive perto ou não com a descrição mental que tinha dela.

15 minutos de espera, eu já estava na terceira lata de refrigerante, quando vejo Morais chegando em um carrão importado. Estava só. Achei completamente normal. Provavelmente queria ser discreto e a pessoa chegaria alguns minutos mais tarde proveniente de outra atividade social, jantariam e quem sabe esticariam até um motel bem longe do centro, dificultando meu trabalho ou contando com a sorte que habitualmente não possuo, os dois rumariam até a casa da amante e fariam o tipo de sexo que os amantes fazem. Isso seria bom.

Menos de 10 minutos descem de um táxi um homem com cara de modelo de comercial de grife famosa, com a barba por fazer bem calculada, e uma garota de seus 23 anos, bem mais nova que Morais, muito bonita, alta e vestida de modo elegante. O sacana tinha bom gosto, esse mérito ninguém teria o direito de tirar dele. Fiquei sabendo que eram eles quando saíram os três juntos, Morais, a moça e o sujeito.

O erro dele foi não atentar para o fato de que um sujeito sem perspectivas como eu, estaria bem perto, quase fungando em seu cangote, e aceitaria investigar sua vida atrás de um possível caso de adultério, para voltar com umas fotos que revelassem sua indiscrição e motivasse um divórcio, mais um entre tantos que acontecem todo ano nas varas de família.

Estaria tão perto, quase sentindo o cheiro dos corpos suados depois da relação que acabaria, possivelmente, com o casamento da madame com o gordinho safado e de bom gosto, e me dei conta que não imaginava que tipo de amante Morais podia ser. Seria ele rápido no gatilho que precisaria umas duas tentativas até satisfazer alguém ou que apesar da aparência pesada, seria alguém leve e melífluo no ato sexual. Parei porque fiquei meio enojado com as imagens mentais.

Os três saíram do restaurante depois de mandarem para dentro uma refeição refinada, cujos pratos eram escritos ora em italiano ora francês. Um empregado do restaurante foi quem me deu a letra, já que o que pedi de adiantamento da pobre chifruda me tornou bem generoso nas gorjetas. Fiquei sabendo que era a terceira vez que os três vinham jantar ali nos últimos 5 meses. É incrível como o dinheiro relaxa o músculo da língua. Esses subalternos não estão nem aí para os endinheirados, por mais que parecesse que o dinheiro compra a fidelidade.

A moça se acomodou no banco de trás e do lado de Morais sentou o modelo. Eles partiram. Tirei algumas fotos e segui os três num táxi. “Não chega muito perto mas não perde eles de vista”, ordenei ao motorista. O carro de Morais pára e deixa a moça em uma esquina de um prédio chique. Tirei fotos dela.

“E agora, que que eu faço?”, perguntou o taxista.

“Continua, que é ele quem eu quero.”

Continuamos na cola do Morais, sem saber onde eles parariam e o que passava na mente dele. Seria ele uma bicha enrustida, dos que casam com mulheres para fazer uma fachada para essa nossa sociedade machista, ainda mais ele que tem uma posição de destaque? Minhas dúvidas se esvaíram no momento que ele deixou o rapaz na frente de uma casa. Eles se demoraram um pouco. Tirei fotos dele. Nada comprometedor.

Sozinho, o carro tocou em direção ao centro. Enfim, descobri a perversão dele ao vê-lo parar no sinal vermelho e ver um travecão alto e pouco vestido se debruçar na porta. Tirei mais fotos. Para meu completo estarrecimento, o motorista do táxi devia estar acostumado, o travecão entrou no carro e eles partiram. Imaginei a cara que a mulher dele fará ao ver isso.

O sinal abriu e segui-os até um motel afastado do centro.

“Quero um quarto perto daqueles dois que entraram há pouco”, pedi ao recepcionista.

Ele me disse o número e dirigimos lentamente até eles. São as suítes mais caras de lá. Dei um tempo lá dentro. Talvez eles estivessem nas preliminares. Resolvi ir até o quarto e com a abordagem mais direta, abrir a porta com a câmera em punho e registrar os dois numa posição comprometedora.

A boneca desengatou de trás do Morais e me perseguiu. Mal consegui fechar a porta, o pezão do traveco me impedindo.

“Me dá essa máquina” e arrancou a câmera da minha mão.

“Tu tá arrochando o gordo, né? Quanto tu vai ganhar nessa?”

Eu não disse nada, fiquei esperando o momento para pegar a máquina de volta.

“Quanto tu tem aí contigo? Eu posso devolver a tua câmera...” No fim das contas com algumas dezenas de reais consegui a prova do crime de volta.

“Isso é tudo que eu tenho, fora o dinheiro do motel”, disse. E o travesti me deixou em paz.

Entrei no táxi e me mandei o quanto antes.No dia seguinte apresentei as fotos íntimas do marido à traída.“Não pode ser!”, exclamou ela desanimada. “A senhora me parece uma boa pessoa, mas infelizmente, dona, no meu dia a dia isso é bem comum. Sinto muito.” Ela me pagou em dinheiro, saí feliz da vida com meu primeiro caso resolvido e com grana no bolso.

Semanas depois, o traveco apareceu com a boca cheia de formiga. Não tenho certeza se foi o Morais que apagou ou se foi a esposa dele. Francamente, isso não é comigo.

Um caso pegajoso

Um figurão, desses que usam um bigodinho e colecionam dossiês os mais diversos de rivais e amigos, me contratou para grampear um desafeto dele. Eu quase não aceito por uma questão de honra, ética e princípios, só que a vultosa soma em dinheiro oferecida falou mais alto.

Combinamos tudo por telefone, que ironia. Ele não veria minha cara, melhor assim e eu receberia rigorosamente em dia pelo fruto de meu trabalho. Ele me explicou porque resolveu fazer isso, para mim tanto fazia. Eu flutuava por cima dessas questões. Nem era como se o sujeito a ter sua privacidade telefônica violada fosse um santo ou digno de confiança.

Meu maior problema na época era saber se as transcrições seriam em discurso direto ou indireto. Resolvido isso, não imaginava que agora seria impossível atender meu telefone com o receio de que fosse algum membro da imprensa, uma vez que o escândalo havia estourado.

A merda tinha batido no ventilador de verdade. E meu nome apareceu envolvido no noticiário. O majestoso tratou de me tranqüilizar, disse que isso passaria. Para ele sim, que tinha passado incólume por percalços maiores na sua longa carreira política, eu estava interessado em saber o que aconteceria comigo. Geralmente o peixe pequeno é que morre mais cedo.

Passei a ter a ligeira impressão de que era seguido regularmente e que alguém, em algum lugar, lia um relatório de minhas movimentações, inclusive quantas sacudidas deva depois de urinar e qual axila recebia o primeiro spray de desodorante.

Pensei que sofreria um atentado à minha vida, mas acho que no final das contas o frango do Ataíde é que era mortífero para qualquer um que ousasse comê-lo e como não fui o único a reclamar do Ataíde, eximi-o da parte que lhe caberia no complô contra minha cabeça.

Logo quando pensei que a coisa ia acalmar, pois tinha começado a Copa do mundo e o Brasil ainda que vencendo sem convencer tinha boas chances de chegar a final. Um procurador me procura e me diz seu plano para botar cal de vez na sepultura política da velha raposa ladina.

Fiquei de pensar na proposta de ser o herói da história e ele me ameaçou com a Receita Federal e como quem não deve não teme, acabei concordando com o sujeito em tomar parte de sua maquinação.

Como não sou bobo nem nada, contratei um advogado. Perguntei se tinha alguma chance de me dar bem na parada e ele me diz que sim, se sair vivo já é lucro.

Resumo da ópera: ele renunciou, mas foi eleito para mais um mandato, meu advogado se bandeou para o lado dos herdeiros político dele e eu estou aqui em Picadas do Sul, nesse ranchinho de pescador vivendo com o que tiro do mar. A vida é boa, exceto quando bate o vento sul e meu barquinho quase vira com as benditas marolas.

Respeitem a natureza

Caso não tenham acompanhado o fim ruidoso do meu último relacionamento, foi capa de todas as Contigos, Amigas e Caras da vida por semanas, saibam que isso me deixou meio traumatizado e sem vontade de sair de casa. Malditos paparazzi, que não dão trégua, eles não sabem respeitar minha dor e se pudessem se esconderiam até no encanamento do vaso sanitário. Por isso peço uma salva de palmas pro sujeito que inventou a tele-entrega.

Precisava urgentemente sair de casa e como conseguir isso, sem atrair a multidão de repórteres para minha escapada? Combinei com um sósia meu que sempre usava para situações de perigo uma forma de ele despistar os abutres enquanto eu sumia disfarçado de Super-Homem pela casa do vizinho.

Ufa! Deu certo o plano. Depois que coloquei a cueca por baixo da calça, cheguei na praia caminhando e resolvi fazer uma trilha pelas pedras do costão até uma praia vizinha. Lindo, perfeito, comunhão total com a natureza como um poeta do arcadismo. Minha fama e fortuna não significavam nada para aqueles seres todos. Se bem que acho que um lagartão me reconheceu.

Cheguei, com milhares de carrapichos presos no tênis e nos pelos das pernas, ao meu destino. A coceira tinha amenizado. Respirei o ar puro e curti um pouco aquela calma. Não tomei banho pelado por medo das fotos pararem na Internet. Isso não seria bom, agora que estou negociando meu ensaio sensual pruma revista dessas.

Era hora de voltar e vi um pedaço de cabo de enxada ou machado ou algo assim entre as pedras e peguei-o para bancar o Robinson Crusoé. Mal sabia eu as implicações desse ato tão corriqueiro.

Estava esbaforido, sem fôlego mesmo pois tinha andado no sol do meio-dia, pelo horário de verão parecia mais cedo. Embaixo de umas pedras perto do ponto de partida da trilha, as pedras do costão da praia A, encostei meu belo e cansado corpinho à sombra. Vi algo rolando nas ondinhas e batendo contra as pedras lá embaixo. Parecia um pingüim morto.

Era um Spheniscus magellanicus morto. Desde criança as figurinhas de animais que vinham no chocolate Surpresa e corpos de animais mortos me causam comoção e quase me empurraram para uma carreira na biologia. Ainda tenho a coleção e a caveira do primeiro passarinho que encontrei guardada em algum lugar.

Cheguei bem perto dele e o virei com meu cajado. Para quê? Uma criança que estava bem perto lavando no mar seu baldinho de areia e voltou correndo para seus pais ou o que me parecia um casal de israelenses bem suspeitos. Mãe, o moço matou o bichinho com uma paulada. Eu vi ele vivo não faz nem 2 minutos, disse uma outra testemunha de acusação.

Quando dei por mim, centenas de banhistas estavam na areia em volta de mim. Tinham me reconhecido e não adiantava tentar explicar a história. Para todos os efeitos eu era o assassino do pobre animal, morto a pancadas, que por azar pegou uma curva errada no estreito de Magalhães, que nem é tão estreito assim.

Logo eu que participei de dezenas de comerciais pro Greenpeace voluntariamente (leia-se: por um cachê bem menor do que mereço) e não faria mal a um mosquito, deixo isso pro SBP (outro comercial meu).

Alguém lembrou que crime desse tipo é inafiançável. É nessas horas que dou o devido valor ao diploma de curso superior que comprei. Sabia que teria utilidade algum dia mas não foi nesse. Vou deixar pruma próxima, num caso de sedução de menores, obviamente uma armação.

Consegui escapar dessa confusão, sempre consigo. Culpem o meu charme e carisma magnéticos. Mas a notinha no jornal no dia seguinte não foi das mais favoráveis. (Nota: demitir minha assessora de imprensa). Mesmo assim tá no meu álbum de recortes de coisas que são ditas de mim na imprensa.